Vazia.

Padrão

Duas câmeras ligadas a nossa mente, máquinas a serviço do desejo, nesse programa ininterrupto, reality show virtual, sintético natural, espontâneo induzido, fazem o serviço que não faríamos se soubéssemos, mas como só conhecemos o saber não se apodera de nós, não há tempo. Vemos prazer, e nos alimentam essas máquinas vorazes, que sorvem de tudo o que nos ensinaram a querer. O prazer ao máximo, na luta contra o inevitável, o fim do prazer. Cada vez mais rápido, sacie a fome do tamanho do mundo. Duas bocas mastigam, estocam a presa, a substancia, a imagem a ser digerida pela memória para o sustento das marcas de refrigerante. Um depósito de desejos precisa ser preenchido, anos, dias, segundos, quem determina o fluxo do alimento é a voracidade da máquina. Caixas pulverizadoras do desejo estão em toda a parte cada vez mais portáteis e velozes, pois as câmeras que sorvem também querem ser sorvidas, espelhadas digeridas. E isso não basta, mas é tudo, e isso não sacia, mas não falta; afinal qual é o sentido da existência senão a continuação do fluxo do consumo nesses tubos de borracha transparente que nos prendem durante gerações a nós mesmos. Sim maquinas catalisadoras de prazer preencham essa alma que tem o tamanho da eternidade e apenas uma vida para preenchê-la. A futilidade é um belo romance entre nós e quem achamos que merecemos ser. E isso, não confunda, não é vida, é apenas isso que as pessoas fazem enquanto não morrem.