Mente

Padrão

Invento. Puras e frias, essas frases e suas leituras, absorvo. Retratos de uma falsa candura, capturadas pela minha intenção de significar. Rostos, olhares e a sensação de resposta ao ser amado, isso também invento; ao menos sei que é real, porém invento. E invento o outro lado, além das retinas, tudo que encontro é significado criado por mim mesmo, a esmo, despretensiosamente inventando conhecimento. E não há quem conteste na mente do criador de significados, a realidade está em sua invenção, e confirmada na sua intenção de ser correspondido, e isso eu sei, invento, mas me faço olhos e enxergo-me nos outros. Procurando a mim mesmo sem a intenção de achar. Descobrindo que nessa rede de significados e realidades criadas também fui eu vitima de quem me lê, e exatamente agora, boa parte do que você lê é você.

Vazia.

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Duas câmeras ligadas a nossa mente, máquinas a serviço do desejo, nesse programa ininterrupto, reality show virtual, sintético natural, espontâneo induzido, fazem o serviço que não faríamos se soubéssemos, mas como só conhecemos o saber não se apodera de nós, não há tempo. Vemos prazer, e nos alimentam essas máquinas vorazes, que sorvem de tudo o que nos ensinaram a querer. O prazer ao máximo, na luta contra o inevitável, o fim do prazer. Cada vez mais rápido, sacie a fome do tamanho do mundo. Duas bocas mastigam, estocam a presa, a substancia, a imagem a ser digerida pela memória para o sustento das marcas de refrigerante. Um depósito de desejos precisa ser preenchido, anos, dias, segundos, quem determina o fluxo do alimento é a voracidade da máquina. Caixas pulverizadoras do desejo estão em toda a parte cada vez mais portáteis e velozes, pois as câmeras que sorvem também querem ser sorvidas, espelhadas digeridas. E isso não basta, mas é tudo, e isso não sacia, mas não falta; afinal qual é o sentido da existência senão a continuação do fluxo do consumo nesses tubos de borracha transparente que nos prendem durante gerações a nós mesmos. Sim maquinas catalisadoras de prazer preencham essa alma que tem o tamanho da eternidade e apenas uma vida para preenchê-la. A futilidade é um belo romance entre nós e quem achamos que merecemos ser. E isso, não confunda, não é vida, é apenas isso que as pessoas fazem enquanto não morrem.